Por Patrick Campos e Jonatas Moreth*
Em texto publicado no sítio eletrônico da União Nacional dos
Estudantes em Novembro deste ano, diretores da UNE e da União Brasileira
dos Estudantes Secundaristas defenderam “a meia-entrada para os
estudantes, vinculada às carteirinhas da UNE e UBES” bem como “para o
jovem de baixa renda que não estuda”.
O debate orbita a discussão central do Estatuto da Juventude, em
vias de aprovação no Senado Federal, questão da mais alta relevância
para o conjunto das juventudes no Brasil, pois trata da consolidação e
ampliação dos direitos dos jovens.
Exatamente por isso, as afirmações do texto publicado no site da
UNE suscitam uma discussão mais aprofundada. É de causar estranheza que
sejam exatamente aqueles que historicamente lutaram para que o direito a
meia-entrada se tornasse uma realidade, agora sejam os que trabalham
por sua mitigação.
A luta pelo direito a meia-entrada marcou a história recente do
movimento estudantil brasileiro. Foi por meio de suas principais
entidades e da participação de cada uma e cada um das/os estudantes que
saímos vitoriosas/os.
Mas cabe aqui fazer um parêntese.
Esta luta tinha como centro, o direto à cultura e ao lazer, com a
garantia de seu acesso a uma parcela da sociedade historicamente privada
deste. Privada porque, em sua grande maioria os estudantes não possuem
renda nem trabalho; vivem de mesadas, bolsas e pequenas remunerações.
Bem como, os próprios estudantes empregados ocupam muitas vezes postos
de trabalho precarizados e mal remunerados.
A questão portanto era: como ampliar o acesso desta parte da
população à um direito tão fundamental como a cultura e o lazer? A
resposta dada foi a meia-entrada. O pagamento de metade dos valores
cobrados em shows, espetáculos, eventos esportivos e etc. O instrumento
para tanto, uma Carteira. Emitida pelas entidades estudantis nacionais e
distribuída pelas entidades de base.
É nesse ponto da história, que ocorre uma ampliação significativa
do financiamento da rede do movimento estudantil, com destaque para as
duas principais entidades nacionais: UNE e UBES. Este autofinanciamento
tem papel decisivo no aumento da capacidade de atuação das entidades
estudantis, pois estas ganham mais autonomia. Não precisam ficar reféns
de financiamentos privados e mesmo públicos. Sem dúvidas esta autonomia
mudou o perfil organizativo e mobilizador do Movimento Estudantil
brasileiro.
No entanto, quando debatemos o Estatuto da Juventude, que é um
marco no que diz respeito a garantia dos direitos, bem como das suas
ampliações e inovações para a juventude, a discussão da meia entrada
precisa ter como fundamento sua própria gênese. Ou seja, a ampliação do
acesso à cultura e ao lazer, por uma parcela da população brasileira que
não se resume apenas aqueles que se encontram na condição de estudante.
Falamos agora de todos que estão na condição de jovem.
Apesar do crescimento econômico; da melhoria na qualidade de vida
de milhões de pessoas nos últimos dez anos; da valorização do salário
mínimo; da queda do desemprego e de tantos outros números positivos e
otimistas que podem ser citados, a juventude, que hoje representa ¼ da
população brasileira, é quem ainda reúne os piores índices de falta de
acesso a equipamentos e instrumentos públicos e privados de cultura,
lazer e mobilidade, entre outros.
Por estas razões, torna-se impossível a concordância com posições
tão retraídas e comodistas. O momento é de luta pela ampliação de nossos
direitos. O texto publicado no site da UNE possui fundamento importante
ao ressaltar o papel da meia-entrada e da carteirinha de estudante, mas
peca ao ignorar, propositadamente ou não, os demais jovens, fazendo
apenas vaga referência ao “jovem de baixa renda que não estuda”.
Cabe aqui afirmar que a vinculação do exercício do direito ao porte
da carteira de estudante já não representa um avanço, mas uma exclusão
quando se trata dos jovens não estudantes. Exatamente por isso o debate
não pode girar em torno da questão “estudante e não estudante”, mas sim
da ampliação necessária dos direitos de todos os jovens, pois é esta a
nova condição que baliza a ampliação deste direito.
Em sendo assim, é preciso ter coragem de enfrentar a questão,
garantindo que a juventude brasileira não perca o bonde da história e
tenha a possibilidade de viver a sua juventude, nas mais diversas formas
e situações que hoje estão os jovens no Brasil, sendo que a partir de
agora com acesso ampliado a cultura e opções de lazer.
Não comprar esta briga é um passo atrás na caminhada por novos
direitos. É passar como verdade, a mentira, de que aqueles que oferecem
pouco aos muitos necessitados, enquanto guardam os lucros em seus
bolsos, são mais fortes. Como há muito já se dizia “façamos nós com as
próprias mãos, tudo que a nós nos diz respeito”!
MEIA-ENTRADA PARA TODA A JUVENTUDE SIM!
*Patrick Campos é Coordenador de Formação Política da JPT-PE, e Jonatas Moreth é 3º Diretor de Políticas Educacionais da UNE.
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