8 de março: dia de luta e resistência


Por Raquel Esteves*


Temos mais um 8 de março. Nossa luta por direitos é cotidiana, mas este dia, é um marco de resistência das mulheres. A data está para as feministas como o 1º de Maio está para a classe trabalhadora. Ainda é comum a prática em muitos lugares no 8 de Março de distribuição de flores e discursos que reforçam a imagem da mulher como mãe, esposa, frágil, entre outros adjetivos. Na contramão deste pensamento, os Movimentos de Mulheres realizam atos e vão às ruas dizer que querem mais que flores: querem respeito, igualdade, garantia de direitos, autonomia sobre seus corpos e vidas e um estado laico que não permita que as mulheres sejam reféns do fundamentalismo religioso.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma em seu texto a igualdade de direitos entre homens e mulheres, porém, desde sua criação, passaram-se anos sem se avaliar as violações aos Direitos Humanos das Mulheres.

Em 2012 pela primeira vez o Banco Mundial teve como foco em seu relatório anual, a igualdade de gênero e desenvolvimento. Nele, constou, o que nós mulheres já sabemos e sentimos: a desigualdade de gênero ainda é estruturante nas relações entre homens e mulheres nas sociedades.

Segundo o relatório, no mundo 35 milhões de meninas ainda estão impedidas de frequentar a escola e as mulheres recebem oitenta centavos por dólar pago aos homens do seu círculo social. É lógico que do ponto de vista do Banco Mundial a igualdade de gênero é importante, pois é apontada como fator de aceleração, crescimento econômico e aumento de lucro para o mercado.

Tendo em vista que, historicamente, às violências doméstica e sexual somam-se outras formas de violação dos direitos das mulheres: da diferença de remuneração em relação aos homens à injusta distribuição de renda; do tratamento desumano que recebem nos serviços de saúde ao assédio sexual no local de trabalho. Essas discriminações agravam os efeitos das violências física, sexual e psicológica contra a mulher. Essas formas de pensar a relação conflituosa entre homens e mulheres possuem um mesmo ponto de partida: a opressão vivida pelas mulheres numa sociedade androcêntrica e machista.

Os dados das Nações Unidas do ranking sobre Disparidade de Gêneros, não são muito animadores em relação ao fim da desigualdade de gênero. Segundo a previsão da ONU, só haverá igualdade entre homens e mulheres no mundo em 2490 e isso só acontecerá se as políticas públicas afirmativas e de promoção dos direitos das mulheres continuarem sendo implementadas sem interrupções nas ações que já existem. É importante ressaltar que embora possa parecer desanimador é fator fundamental a manutenção das nossas lutas, para que esta previsão possa se abreviar cada vez mais.

Mas o que é ser mulher e ser homem em nossa cultura? Na construção da identidade de gênero estão envolvidas diferentes instituições bastante significativas para a formação das pessoas. Desde a infância, a família, a religião e a escola contribuem para essa construção. A própria forma como a família está estruturada reforça e afirma modelos de comportamentos específicos para meninos e meninas. No dia-a-dia, as crianças são educadas conforme seu sexo. Ou seja, meninos e meninas recebem estímulos diferentes. São reprimidos de acordo com o que a sociedade diz ser papel masculino ou feminino; e a reprodução social das relações de poder tem início muito cedo.

É nesta conjuntura que o movimento feminista atuou e atua dando enfrentamento à cultura patriarcal e busca ampliar e garantir os direitos das mulheres visando à igualdade.

A nossa Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso I, diz que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. Porém a nossa sociedade machista faz com que até hoje ainda lutemos por essa igualdade de direitos, pois as obrigações são muitas.

No Brasil, as conquistas de espaços da mulher é fruto das lutas sociais das mulheres organizadas, famosas e anônimas, que se doaram na construção de um país mais justo e igualitário para todas as mulheres.
No tocante à luta pela construção de um país mais justo e igualitário não podemos deixar de lembrar que o Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras completou, neste ano, 33 anos de existência, existência esta que faz parte de muitas lutas sociais, inclusive das mulheres.

Em 2013 também comemoramos 10 anos em que o PT está na Presidência da República, foi no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que as políticas para as mulheres ganharam mais poder e visibilidade com a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).

É importante reconhecer o avanço que foi a criação de um organismo federal que elabore e implemente as políticas publicas específicas para as mulheres. A SPM tem papel fundamental na implementação de mecanismos que buscam o enfrentamento das desigualdades nas relações de gênero, elaborando e implementando a política de gênero de forma transversal com as demais secretarias e ministérios incorporando as especificidades das mulheres nas políticas públicas e buscando as condições necessárias para a sua plena cidadania.

Uma das principais ações da gestão petista no âmbito de políticas para as mulheres e enfrentamento as desigualdades de gênero foi o grande marco do enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil que é a Lei 11.340, sancionada no dia 7 de agosto de 2006, pelo então presidente Lula. A Lei Maria da Penha representa uma grande conquista das mulheres em busca da erradicação, prevenção e punição da violência. Isto mostra que uma gestão que é sensível à luta das mulheres é um instrumento poderoso e uma forte aliada na desconstrução das desigualdades.

E ainda desconstruindo preconceitos, o PT continuou fazendo história, quando o povo brasileiro elegeu Dilma Rousseff a primeira mulher a presidir o Brasil.

Uma presidenta que no seu discurso de posse falou: “A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas, e lhes dissessem: SIM, a mulher pode!”.

Sem dúvidas a eleição de uma mulher com a história de luta contra a ditadura militar da presidenta Dilma, é um divisor de águas para a participação das mulheres nos espaços de poder e decisão.

É importante que a figura da presidenta sirva como estímulo para que mais e mais mulheres entrem na política, pois mesmo com o apoio de alguns companheiros que defendam uma maior participação das mulheres nestes espaços, somos nós que precisamos lutar e defender as nossas pautas.

Como disse a ex-presidenta do Chile, Michele Bachelet: “quando uma mulher entra na política, muda a mulher. Quando muitas mulheres entram na política, muda a política”. E, é isto que é necessário, mudar a política com mais mulheres participando. Por isso, precisamos lutar pela reforma política já.

Nós Petistas temos um grande desafio pela frente, vamos pela primeira vez, em 2013, ter um Processo de Eleições Diretas (PED) com a paridade tão sonhada, desejada e conquistada pelas mulheres do PT.

A paridade de gênero no PED é uma grande conquista, mas também, um grande desafio. Só iremos saber como será vivendo. É necessário investir na formação política das mulheres para que elas ocupem os espaços de dirigentes do Partido de fato e de direito não sendo instrumento de um faz de conta, precisamos provar que as mulheres que sempre estiveram nas lutas sociais, diga-se de passagem, estão em um espaço que não foi dado e sim conquistado e que é deste ponto para frente, sem retrocessos.

O mundo que sonhamos, a transformação social que buscamos, a revolução que pretendemos só é possível com a participação das mulheres.

Neste 8 de Março, como em todos os dias do ano, faço coro com Clarice Lispector: “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”.

*Raquel Esteves é feminista, militante do PT de PE e dirigente nacional da AE

Fonte: www.pagina13.org.br

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